sexta-feira, 7 de junho de 2013

Comentando o Redes - palestra do Prof. Gert Biesta

Diferentemente do que se compreende da sinopse do livro "Para além da aprendizagem" (i), lançado no Brasil pela Martins Fontes, o autor e professor Gert Biesta, na palestra de abertura do VII Seminário Redes (ii) fundamentou sua fala no argumento de que "o ensino é algo que vem de fora, para trazer algo que não temos" (anotações da palestra). O professor Biesta disse ser o ensino um "presente" pelo qual não devemos agradecer porque o agradecimento ["obrigada" é a redução de uma sentença dedicada ao registro de que nos compreendemos obrigados a retribuir] tira a "graça" que o presente representa. Nesta mesma linha, diz que o ensino é algo que entra em nossa experiência, "situações que vão a fundo", constituindo o "risco lindo da educação". Ainda segundo sua compreensão, se tiramos a dificuldade da educação, tiramos a possibilidade do encontro, que é o ensino que vem de fora do sujeito e nele encontra resistência.  Por fim, afirmou que a educação deve ser centrada no mundo e não na criança, é tarefa e responsabilidade do professor, por isso, entende que "o conceito de aprendizagem nos faz esquecer do papel árduo que os professores tem que fazer" [ensinar].
Embora reconheça que sua fala tem sua importância como contraponto do "mestre ignorante" de Ranciére (iii), ou às políticas de educação à distância [aquelas que não respeitam qualquer proporcionalidade na relação professor e estudante que pudessem ser razoavelmente responsáveis], discordo do palestrante. O processo da educação tem sua compreensão simplificada demais se compreendido com "pau que nasce torto nunca se endireita", ou seja, a compreensão de que todo o saber "vem de dentro". Também é simplificado demais [o processo de educação] se compreendido apenas como "água mole em pedra dura tanto bate até que fura", dito de outra forma "todo o saber vem de fora". Nem inatismo, nem empirismo, a dialética parece ser a explicação mais plausível: educação como processo que se dá entre o sujeito (ser biossocial) e meio, em relação dialética de sua subjetividade com a objetividade das relações sociais a que submetem. A compreensão dialética diria "nem apenas de dentro, nem apenas de fora", o ensino é ensino-aprendizagem, é movimento contraditório, dolorido e prazeroso, porque nos torna mais. É de dentro (o que percebo de mim e do mundo) e é de fora (o que o mundo e os outros me marcam), é dialético, é conflituoso: o que meus pais dizem, o que meus amigos dizem, o que posso perceber para além do que é dito, o que a escola me provoca...
(i) http://www.martinsfontespaulista.com.br/ch/prod/vit_c/447693/34/PARA-ALEM-DA-APRENDIZAGEM.aspx
(ii) http://www.seminarioredes.com.br/
(iii) RANCIÈRE, Jacques. O mestre ignorante: cinco lições sobre a emancipação intelectual. 2a. ed. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2004.

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