Reproduzo, a seguir, reportagem de Outras Palavras.
Outras Palavras de novo no ar
Ataques ao site foram interrompidos logo depois de denunciados. Rede de agressores permanece ativa: ministério da Justiça não pode permanecer omisso
Ataques ao site foram interrompidos logo depois de denunciados. Rede de agressores permanece ativa: ministério da Justiça não pode permanecer omisso
Por volta das 20h30 de ontem (13/7), começou
a ser desmobilizado o ataque que derrubou e manteve fora do ar, por quase 24
horas, os sites de Outras Palavras. O recuo ocorreu logo
depois de difundirmos, pelo Facebook e por boletim de atualização disparado
para 20 mil assinantes, a denúncia da agressão. Mais ou menos no mesmo horário,
também o site da revista Carta Capital, que fora atingido de modo
semelhante, voltou a ser acessível. A ameça, porém persiste. A rede que atacou
os dois sites permanece ativa, e pode ser acionada a qualquer momento. Por sua
natureza, só é possível neutralizá-la de modo eficaz se houver ação do
ministério da Justiça e da Polícia Federal – algo que inexplicavelmente tarda,
como revela Luís Nassif neste post em seu blog.
O gráfico acima revela o que
ocorreu com os servidores que hospedam Outras Palavras, e
confirma nossas hipóteses de ontem. Sofremos um Ataque de Negação de Serviço,
ou DDoS [veja Wikipedia, em português ou inglês (mais detalhado)]. A curva indica o consumo de memória do
servidor, ao longo do dia. O horário é o de San Francisco (EUA), quatro horas a
menos que em Brasília.
O volume de memória contratado
pelo site é 3,5 Mb, compatível com cerca de 10 mil textos lidos ao dia. Durante
a quarta-feira, porém, o consumo ultrapassou frequentemente os 20 Mb, chegando
a um pico de mais de 50 Mb e provocando uma sucessão interminável de quedas.
Programado para religar automaticamente, o servidor era de novo derrubado,
sempre que o fazia. Relatamos o ataque às 19h (15h em San Francisco). Logo em
seguida, a agressão refluiu.
DDoS é um ataque de enorme
poder que, no entanto, deixa rastros. Tornou-se mundialmente conhecido quando
empregado, em dezembro de 2010, pelo coletivo Annonymous, em favor da liberdade
de expressão e de Julian Assange (leia nossa matéria a respeito).
Em resposta a uma ação do governo norte-americano, que ordenou o congelamento
das doações feitas ao Wikileaks, cerca de 1500 ativistas do Annonymous
derrubaram, por DDoS, sites de mega-organizações financeiras como Visa e
Mastercard (que ajudaram no bloqueio financeiro). Nosso texto de então revela:
para participar de um ataque deste tipo, basta baixar um programa e colocar o
próprio computador na artilharia. No caso do Annonymous, os alvos são
escolhidos em reuniões via internet, em linguagem cifrada e, segundo o grupo,
sempre em favor das liberdades e direitos.
Mas e se uma organização
criminosa usar a mesma arma com objetivos opostos? Surge, neste caso, uma
ameaça extremamente grave à liberdade de expressão. A partir de 7/3, foram
sistematicamente derrubados os sites que se referiam a um golpe financeiro, de
tipo “pirâmide”, possivelmente praticado pela empresa TelexFree, cuja
propriedade é nebulosa. Caíram o blog Acerto de Contas (o primeiro a tratar do tema), o blog de Nassif, Outras Palavras, Carta Capital, jornais regionais que
reproduziram as matérias. No caso de Nassif, a agressão estendeu-se por quase
uma semana, durante a qual o blog alternava momentos de atividade com outros em
que era derrubado. Tudo indica, portanto, que o esquema permanece ativo,
mobilizando-se ou refluindo segundo escolhas táticas.
Nesse ponto, torna-se decisiva
a ação das autoridades responsáveis por defender a liberdade de expressão na
internet – ou seja, ministério da Justiça, Polícia Federal e polícias
estaduais. Seu trabalho não é fácil, mas é perfeitamente possível. Há profusão
de indícios segundo os quais uma empresa procura silenciar quem aponta suas
ilegalidades – em particular, as “pirâmides”, tipificadas há décadas como
estelionato. O modus operandi da empresa baseia-se em
mobilização de pessoas que atuam fundamentalmente na rede. Estas pessoas podem
perfeitamente ter recebido, como parte de um pacote de aplicativos “de
trabalho” um programa que alista suas máquinas no ataque contra os sites
visados pelo esquema.
Há, portanto, rastros, possíveis provas, um
claro caminho de investigação. Mas, conforme frisa Nassif, o aspecto mais desconcertante do caso é
a paralisia do ministério da Justiça, num episódio em que lhe caberia articular
a defesa de direitos e liberdades.
Haverá viés político no ataque aos sites?
Nada autoriza a afirmar que sim, mas certos fatores permitem suspeitar. Por que
os grandes grupos que dominam a velha mídia não tratam do caso?
Quem são os reais controladores
da TelexFree? Haverá ligações entre eles e, por exemplo, os poderosos esquemas
de difamação, via internet, que tentaram bombardear a então candidata Dilma
Roussef, durante a campanha presidencial de 2010, em favor de outro postulante?
Só a investigação poderá
responder. Por isso, e em nome da democracia, o ministério da Justiça não pode
permanecer de braços cruzados.
A
Redação de Outras Palavras
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