quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

HSBC, mídia brasileira e o que sustenta nossa ignorância

Quando falamos em marco regulatório da mídia, pensamos no direito que temos sobre as concessões públicas de comunicação de que estes instrumentos não apenas preocupem-se com captar público e vender espaços de propaganda, mas possam servir à formação e defesa de uma sociedade democrática e informada. Isto significa que algumas regras e responsabilizações (ninguém está falando de censura, certo?) tenham que ser cumpridas. Eu tenho o direito de formar a minha opinião e, para que eu possa formar a minha opinião eu preciso ter o direito de, quando uma notícia for veiculada, ouvir diferentes fontes e perspectivas relacionadas a esta notícia.
Por exemplo, contas públicas, Petrobrás, greve dos transportes de carga são temas que afetam diretamente a sociedade brasileira e a forma como a sociedade brasileira se comporta sobre estes temas afeta, também, as medidas a serem tomadas sobre eles. Quando a mídia impõe uma compreensão restrita do tema que está abordando a reação da sociedade vai na direção que a compreensão restrita causa. Se a sociedade tivesse um acesso mais qualificado à informação (plural, divergente, complexo e aprofundado) teríamos possibilidade de tomarmos a direção de forma mais autônoma, decisões de qualidade melhor para nossas vidas.
É como se eu tivesse que resolver um problema simples: o que vou comer agora, por exemplo, mas sem poder conhecer o que há de disponível em meu armário. O que a mídia tem feito é construído um armário inexistente, com produtos que não tenho disponíveis, mas que passo a acreditar que tenho e, quando vou providenciar o que comer, não encontro os elementos. É grave, é muito grave.
A UFRJ está (esteve ao menos, por duas vezes este ano) sem dinheiro para pagar os funcionários terceirizados (que são precarizados nas relações de trabalho e no salário) por questões que envolvem o atraso na votação do orçamento da União. O dinheiro é preso, não sai do cofre, da virtualidade contábil, não circula entre órgãos públicos, prefeituras, estados, fundações - e as pessoas que trabalham fazendo com que a máquina funcione passam a não receber e, não recebendo, não pagam suas contas e não mantêm funcionando o mercadinho da esquina, e tudo o mais que faz o país andar. Tem haver com a falta de consenso no Congresso, tem haver também com os interesses políticos partidários em manter os favores entre seus agregados, tem haver também com a falta de compreensão política com a qual votamos (a saladinha que fazemos para votar), que por sua vez tem haver com a mídia, que deveria colocar em discussão temas polêmicos de forma polêmica - mostrando mais de uma forma de ver o problema. Eu já estive em países em que os programas destinados à informação (jornais, reportagens), precisavam apresentar o problema, alguma referência histórica que o contextualizasse, e diferentes visões sobre o mesmo (do governo, da acadêmia, dos sindicatos, dos movimentos sociais que tinham ligação com este problema). A Petrobrás, e a forma como a empresa tem sido tratada, especialmente no Jornal Nacional (embora haja uma orquestração em outros meios) é responsável por 10% do PIB brasileiro e por 15% da capacidade de investimento do país. É óbvio que a forma como as denúncias estão sendo tratadas prejudicam a empresa e também todos - TODOS E TODAS - nós. Eu (porque trabalho numa Universidade Pública que triplicou suas vagas e precisa de investimento para dar conta de seu trabalho, você, que trabalha e usufrui do país (de alguma forma você usufrui) e o auxiliar administrativo que não está recebendo seu salário (da empresa terceirizada), A forma como temos nos portado diante destes três fatos contas públicas, Petrobrás e greve dos transportes de carga (o que pensamos e fazemos sobre isto) podem piorar ou melhorar nosso cotidiano, mas não temos a diversidade de informações básicas e disponíveis (em meios alternativos) para tomar nossas decisões cotidianas, falamos como marionetes, reproduzindo a mídia, que se move por interesses que na grande (para não dizer exclusiva) parte das vezes é contra nosso bem estar e a favor da concentração de poder e riqueza. Não se iluda quando o Bonner está falando mal do Congresso, não é por ser solidário com nosso desespero frente aos absurdos da política partidária.
Vamos a outro exemplo?
O vazamento de documentos do HSBC:
Veja o básico sobre o tema em:
http://www.cartacapital.com.br/economia/entenda-o-caso-dos-vazamentos-do-hsbc-7392.html
Tem muito mais para ler na Carta Capital, inclusive a origem do banco HSBC, basta procurar.
Veja o que foi publicado hoje pelo jornalista que "tem exclusividade" na notícia:
http://fernandorodrigues.blogosfera.uol.com.br/2015/02/25/lista-do-hsbc-tem-31-pessoas-ligadas-a-direcao-de-empresas-de-onibus-no-rio/#comentarios
Pense num motivo para, entre mais de seis mil contas, apenas às ligadas a pessoas investigadas na Lava Jato e, agora, após muita crítica, sair apenas a listinha dos proprietários de ônibus?



Nenhum comentário: