domingo, 10 de junho de 2012

Os ciclos representam mais que não reprovação escolar: a questão do currículo

A escola organizada em séries tem o seu conteúdo escolar seriado, isto é, para cada série, apresenta-se um conjunto de conteúdos a serem assimilados como condição para que o estudante possa avançar à série posterior. As dificuldades do sistema assentam-se em duas questões: a não compreensão de um conteúdo específico faz com os os estudantes tenham que repetir todos os conteúdos (supostamente) já aprendidos; muitos estudantes, embora aprovados na série anterior, demonstram, na série seguinte, não ter aprendido (ao menos da forma que a escola espera) o conteúdo da série cursada. Comentários docentes do tipo "os jovens de hoje em dia parecem cada vez saber menos", "o sistema recebe todo mundo, mas cada vez ensina menos", expressam um pouco da polêmica.
A seriação do conteúdo escolar toma por base a existência de pré-requisitos (para aprender a dividir é necessário primeiro saber somar, por exemplo) e a ideia de que é do simples para o complexo que devemos ensinar (primeiro o bairro, depois o município, o estado, o país, as Américas, os continentes, por exemplo). Há um entendimento (pouco explicado, mas assimilado facilmente como verdadeiro) de que é assim que se aprende: do simples para o complexo, do próximo para o distante, e que o conhecimento é concreto o suficiente para ser organizado em degraus, ao assimilar um pouco, eu poderia assimilar mais um pouco, assim mesmo: de pouquinho em pouquinho... Até encher a cabeça....
Antes da discussão dos ciclos, é sempre bom relembrar que, caso as séries fossem um bom sistema, funcionariam com todos os estudantes, sem provocar a exclusão de tantos (quer pela saída da escola, quer pela permanência na escola sem aprender).
Os ciclos no Brasil possuem várias formas de entendimento e de organização. No que se refere à organização, podem ser de dois, três ou quatro anos, ter por foco apenas o período de alfabetização (CBAs/Ciclos Básicos de Alfabetização, Ciclos de Alfabetização); ter por base uma reorganização do conteúdo escolar propondo a não reprovação em apenas alguns anos da escolaridade (Ciclos de aprendizagem - onde um conjunto de conteúdos são propostos para estudo por um tempo superior a uma série - ou seja, superior a um ano escolar, ver os ciclos propostos nos Parâmetros Curriculares de 1996); ter por base a vivência da idade de formação (infância - 6 a 8 anos; pré-adolescência - 9 a 11 anos; adolescência - 12 a 14 anos), considerando os contextos de idade (Vygotski), a importância da vivência com os pares para a formação da criança (Wallon).
A questão curricular: propor o trabalho escolar de forma não seriada é sempre um grande desafio. Como trabalhar com a construção de conceitos e com a apropriação crítica do mundo, sem excluir conhecimentos da experiência e sem restringir-se a eles?   

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