quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Os eleitores de Bolsonaro

Vejo quatro categorias de eleitores em Bolsonaro,
1. Pessoas que, vivendo a crise desencadeada pelo impedimento da Dilma em exercer seu mandato (2014), assimilaram a narrativa dos Partidos que deram o Golpe (capitaneados pelo PMDB e PSDB) e não conseguiram apresentar uma resposta à crise. O resultado do impedimento foi perda de direitos (reforma trabalhista que torna possível a terceirização em qualquer nível); congelamento dos investimentos em educação e saúde (o que já apresenta resultados na piora dos atendimentos nos dois níveis); acentuação do desemprego; aumento da violência nas cidades e no campo; crise política prolongada; proteção dos que estão no governo, envolvidos em corrupção (com provas em vídeos, áudios e documentos). Sim, de fato tudo piorou, o país está parado desde o início do impedimento, com as pautas-bomba do Cunha (hoje preso, mas que, mesmo preso, continuava recebendo 500 mil reais por semana, com o aval do Temer, que disse para o empresário Joesley, JBS, "tem que manter isso aí"); a discussão sobre o impedimento em si, "o grande acordo nacional, com o Supremo e com tudo"; fatos que, comprovados - com provas materiais e não obscuras convicções - ajudaram na desmoralização da política, do Congresso, do Supremo, das primeiras e segundas instâncias do judiciário. A população brasileira passou muito tempo ouvindo cotidianamente a desmoralização do Congresso, as notícias da grande imprensa sempre priorizaram o que não funciona, as gaiatices, as fanfarras, o lixo da política. Essa forma de (des)informar ocultou a instrução dos direitos, das legislações, das propostas democráticas de muitas comissões e projetos do país. quem passou os últimos 20 anos ouvindo a imprensa pelos poderosos canais de tv só viu o ruim, o que não presta, o execrável. O processo de impedir a Presidenta Dilma de governar e o seu afastamento, por um Congresso velho, oligarca, sem respeito pelos 54 milhões de votos, só contribuiu para reforçar esta descrença na política, como ferramenta de construção de uma sociedade melhor, no Congresso e no Supremo, em especial. Passado o primeiro turno das eleições de 2018, verifica-se a derrota política dos Partidos centrais do Golpe: o PMDB de Temer (que traiu Dilma) e o PSDB de Aécio (que não aceitou os resultados da última eleição e desencadeou o processo que resultou na extensão da proteção de Cunha, grande articulador do Golpe, com seus cerca de 200 deputados financiados, até onde foi possível). Temer (que rompeu com o compromisso para o qual foi eleito - implementar o Programa do PT) implementou o plano de governo do PSDB (rejeitado nas eleições). Esse eleitorado, que recebe e reproduz a leitura de que "o PT quebrou o país", pensa que, diante do fracasso da política, lhes resta alguém capaz de "varrer" o PT da política, prender o Gilmar Mendes, fechar o Congresso, se preciso, desde que coloque o país novamente (mesmo que ele não aceite que este rumo já estava aí antes, com Lula e Dilma) no rumo do desenvolvimento. Esse eleitorado, na esteira do refrão "o PT quebrou o país", também acredita no que lhe dizem os meios de informação a que acessa: a política de bolsas e inclusão social é que levou o país à crise econômica, a Dilma não sabia negociar (neste caso o eleitorado "apaga" o que era o Congresso capitaneado pelo Cunha, em articulação com Aécio e com o traidor do Temer). Para esse povo (1) não existiu a crise internacional do petróleo, em 2014, a partir da ação da Arábia Saudita em baixar o preço de venda do Barril de U$ 100,00 para menos de U$ 50,00 (o barril chegou a U$ 30,00, no auge da crise), fazendo com que as contas do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, South África) se desequilibrassem, afetando a geopolítica Rússia x EUA. No Brasil, esta crise atingiu de cheio a Petrobras, que tinha, em alguns campos, extração do Barril a um custo de U$ 70,00 e que, diante da queda do preço, precisou parar estes campos, gerando desemprego e prejuízos localizados. O Petróleo representava 7,5% do PIB brasileiro e 15% da capacidade de investimento; além dessa crise imensa, no mesmo ano, a Presidenta teve que enfrentar a crise hídrica (e seus efeitos nos custos da energia) e a revalorização (internacional do dólar) associado ao problema interno causado pela Lava  Jato, que paralisa as grandes empreiteiras nacionais (a apuração e punição da empresas não poderia ter acontecido sem provocar a paralisação das mesmas? A Globo merecia seu processo de sonegação de impostos correr em segredo de justiça e as empreiteiras não?). Todos estes fatores foram explicados no início do segundo mandato da Presidenta Dilma, no momento da opção de implementar, sob a batuta de um nome indicado "pelo mercado" para a economia, o "ajuste fiscal" e foram exaustivamente comprovados durante o processo de impedimento. Quem batia panela deixou de ouvir e, com financiamento internacional de grupos jovens que passaram a atuar na política (no que deveria ser uma onda de "liberalismo econômico", mas que se tornou num centro de fake news, distorção, liberalismo conservador, etc) o que aconteceu foi o estímulo da ideia de que a política precisa ser "higienizada". Repetindo, a crise real (comprovada internacionalmente, com documentos, pesquisas, dados) foi "apagada" e as políticas do PT, que mais contribuiriam para superação da crise (política de investimento e conteúdo nacional, proteção social, renda mínima) passaram a ser responsabilizadas, pela turma do Golpe, por uma crise que foi internacional. Seria cômico, se não fosse trágico.  Esse eleitorado do Bolsonaro baseia seu voto na necessidade de tirar o PT, porque não enxerga as políticas que deram certo, e reproduzem o discurso (local e equivocado) de que "a crise é culpa do PT".
2. Pessoas que têm na Igreja seu espaço de socialização e acreditam que Deus se expressa na voz do Pastor/Padre. O Pastor/Padre lhe diz que o mundo está perdido porque existe uma Constituição que está acima da Bíblia; que a família está se perdendo porque os políticos corruptos estão prevaricando e que a sociedade, regida pela Constituição, é muito benevolente com quem não é cristão, com quem é gay, com a juventude que "pode fazer o que quer", com mulheres que "querem se colocar acima dos homens"; que a ordem de Deus (na compreensão estreita do Pastor/Padre) é que só o homem é a imagem de Deus, a mulher é a costela, aquilo que aleijou o homem, portanto, está aqui para servi-lo e compensá-lo.  "Deus acima de todos", deixa de ser "existe uma força maior que tudo pode e tudo vê e que deseja o bem e a paz", para se tornar "todos devem estar subordinados à vontade de Deus, expressada pelo seu representante, Pastor/Padre" e não à Constituição. Deus, neste caso, é a figura e a narrativa própria de um determinado grupo de Pastores/Padres, os inimigos da família passam a ser os que o Pastor/Padre determinar. Nada melhor que um grupo de esquerda para personificar aqueles que defendem Programas anti-homofobia nas escolas, conversam com grupos de mulheres, negros, indígenas e gays que buscam políticas de reparação/proteção às "minorias". Este grupo de eleitores, grosso modo, acredita que o Pastor/Padre fala por Deus, portanto, fala "a verdade": é preciso se proteger da esquerda, pois as pautas da esquerda, aborto, entre elas, são anti cristãs, é preciso colocar a Bíblia acima da Constituição, para todos. Esse mesmo grupo nega Cristo como amor, a passagem de Maria Madalena... Nem pensar... A denúncia dos "vendilhões do templo", desconhecem, a diferença não precisa ser acolhida, precisa ser subordinada ou aniquilada.
3. Pessoas que têm saudade da Ditadura civil militar no Brasil (1964-1985), negam/desconhecem a corrupção que rolou solta na época, a desvalorização brutal do salário mínimo, a ausência do direito à organização na defesa de interesses sociais e de trabalho, acreditam que uns poucos foram torturados e mortos, estes mereceram. Juntam-se nessa categoria os militares de coturno e pijamas (que até hoje conservam as pensões para filhas solteiras); cinquentões moradores da Zona Sul (que vivem de aluguéis e esportes de praia e sempre ouviram dos pais o quanto a Ditadura "era segura") e a juventude "bombada" em anabolizante, que bate em empregada doméstica em ponto de ônibus (porque "achou que era prostituta"), mata queimado índio ("porque achou que era mendigo"), agride bêbada o Chico Buarque (e qualquer defensor do PT adesivado no Leblon) e que protagonizou a terrível cena no metrô do Rio, de eleitores de Bolsonaro urrando a palavra de ordem "Bolsonaro vai matar 'viado' ".
4. a turma que reivindica "quero meu país de volta" (um desejo de retorno da escravidão), formada por parte da elite classe média (não você, refiro-me à classe média mesmo, que mora em apartamento próprio e bem localizado, IPTU de 50 mil para cima, carro de mais de 120 mil), que odeia a lei das domésticas, as cotas para as Universidades públicas (mesmo que seus filhos estudem no exterior), que tem orgasmo quando diz "a corrupção do PT" e se vangloria, com os amigos, de que compra a mercadoria na "meia nota", de que tem um "funcionário público de estimação no Detran" para resolver de forma "personalizada" seus problemas, que pratica a corrupção cotidianamente, "sonega tudo o que puder", etc. Bem descrita como "elite do atraso", por Jesse Souza, egoísta e hipócrita, não consegue olhar em volta, perceber o mundo e o quanto uma sociedade melhor desenvolvida poderia ajudar "o seu próprio negócio".
A tecnologia das mensagens enviadas a cada um dos públicos, direcionada pelo senso que move cada segmento, em separado: "o PT acabou com o Brasil"; "o meu Pastor/Padre é a palavra de Deus"; "o problema do Brasil foi ter matado pouco" (para um país em que apresenta mais de 60 mil homicídios por ano, em 2016); "quero meu país de volta", associada às fake news e ao Caixa 2 que o financiou (as empresas que contrataram os pacotes de envio de mensagens) resultaram no desafio que se tem hoje: votar em Bolsonaro é fortalecer os 4 grupos, em detrimento não do PT em si, mas de qualquer projeto que aposte na justiça social como finalidade e na solidariedade como meio para construção de um país menos desigual.
Essas 4 turmas, juntas, representam quase 50 milhões de votantes, um misto de ignorância, fé cega no Pastor/Padre, torturadores e assassinos em potencial e hipócritas safados. O Brasil está doente, precisa muito investimento em terapia, formação, cultura, informação, saúde pública, muita responsabilização pelos próprios atos, instituições fortes e independentes para resolver isto. As eleições do dia 28 próximo estão longe de resolver esta crise que é moral e estrutural.
A barbárie, anunciada por diversas vezes pelo candidato Bolsonaro, sua incapacidade de lidar com o debate de ideias; com quem pensa diferente e de produzir algo de positivo para o país, afirmada na sua  infame experiência parlamentar (ausência de projetos aprovados em 30 anos de exercício de cargo parlamentar; elogio a torturador confesso, incapacidade de lidar com o divergente, desrespeito pelo outro, contratação de funcionária fantasma, declarações aberrantes quanto a suas práticas e sua forma de entender e fazer política, entre outras) e reiterada no discurso violento e fascista, proferido a seus eleitores no domingo passado ("os esquerdistas ou aceitam as 'nossas' leis ou vão embora do país ou serão presos", "a solução será a ponta da praia", etc) tem grande chance de chegar ao poder por meio das eleições. A vitória de Haddad também pode acontecer, é evidente. O discurso de ódio de Bolsonaro, e a adesão de formadores de opinião à campanha por Haddad, podem evitar a catástrofe, mas estas pessoas (doentes, desinformadas, cegas pela fé em quem se diz "representante" de Deus, de má índole e atrasadas, do ponto de vista do desenvolvimento da cidadania) vão continuar aí, ameaçando, espreitando a próxima crise mundial para avançar sobre o poder que não conseguem, democraticamente, alcançar.

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