domingo, 6 de novembro de 2016

E agora, que fazer?

A oligarquia, ao retirar a Presidenta Dilma, retirou também da cena política as travas da barbárie. Na história recente do Brasil, vencida a Ditadura de 1964, tivemos uma predominância de governos que aplicavam a cartilha neoliberal. Com resistências políticas populares, sindicais e partidárias (PT entre estas), o debate existia, mas as políticas neoliberais avançavam. Com a chegada de Lula ao poder, após a Carta aos Brasileiros que afirmou sua aproximação centro esquerda, vivemos politicas anti-cíclicas - o protagonismo do estado no desenvolvimento de políticas de renda mínima (bolsas); ampliação do atendimento em previdência; política do conteúdo nacional na indústria; ampliação da participação do trabalho no PIB nacional; inclusão no ensino superior, demonstrando que negros e brancos, pobres e ricos, com a acesso ao ensino superior, tem desenvolvimento semelhante; e tantas outras que não podem ser categorizadas como "neoliberais", ao menos por quem se propõe ao debate não sectário ou autoritário.
Dilma Presidenta tentou mostrar que o estado poderia ser mais técnico e mais duro com o Congresso vergonhoso que tínhamos, foi atropelada por uma crise internacional do Petróleo, pela esperteza da mídia nativa, pela raivosidade da oligarquia e pela dificuldade do Congresso em enxergar sua obrigação política e cívica. Ali se formava o quadro, apoiado pelos batedores de panela, para destituição da Presidenta sem crime de responsabilidade. Agora, Ditadura presente,vivemos a destituição de diretorias em órgãos públicos que se apresentam como críticas às atrocidades políticas propostas (TV Brasil, IPEA, Conselheiros do CNE, ...), Presidência da República ocupada por uma pessoa que não foi eleita para implementar o projeto de governo ao qual serve (descaradamente o vice da Presidenta Dilma implementa a política do PSDB). E o PSDB, quem diria, apaga de seu currículo qualquer compromisso com a democracia, o que lhe interessa é o poder e a conclusão da agenda de entrega de recursos nacionais (interrompida com a chegada de Lula ao poder). Não estamos falando mais de um golpe, estamos falando de uma Ditadura: censura das críticas, um congresso publicamente conhecido como venal, enterrado até o pescoço em denúncias de corrupção, a votar Propostas de Ementa Constitucional contra a vontade da população. Por que não um plebiscito? Por que não uma reforma tributária que de fato corrigisse a centralidade dos impostos sobre o consumo, desonerando os mais pobres e promovendo equidade social com a taxação daqueles que continuam a enriquecer? Por que não promover um debate nacional sobre a Previdência, com direito ao contraditório? Porque o projeto de país, em implementação, não foi votado, não foi eleito, ele representa os interesses daqueles que deram o Golpe.
E os desmandos em Curitiba? Prender uma pessoa para que ela deponha a respeito de um crime sob o qual há suspeição, sem que ela tenha se negado a depor? As prisões realizadas em Curitiba são suspeitas. O juiz faz assim: prende e deixa lá até que o preso resolva "colaborar" com o foco que a operação tem para quem a dirige, no meu entendimento estas prisões preventivas que são realizadas fora da previsão constitucional são utilizadas como tortura.
Conversas telefônicas gravadas com autorização da justiça, com conteúdo não relacionado ao crime em investigação, e que deveriam, portanto, ter sido destruídas, são usadas midiaticamente para expor a pessoa em seus contatos particulares. A articulação investigação/juiz/mídia é vergonhosa.
A Constituição foi rasgada e vivemos um estado de exceção. As políticas em regime de votação e aprovação no Congresso nos levam à barbárie. E, mesmo assim, utiliza-se Medida Provisória para legislar sobre o ensino... Tudo vergonhoso e venal.
O que fazer, agora que constatamos diariamente o caos gerado pelo golpe?
1. Revogar o impedimento, trazer o país a normalidade, à constitucionalidade, barrar a barbárie. Mas para isso a esquerda precisa se unir, complementar, e, principalmente, parar de disputar o espaço que o PT conquistou, reconhecer que o governo Lula e Dilma construíram imensos avanços na transformação da estrutura social. Aprender, melhorar, colaborar. Não dá para engolir a esquerda com o mesmo discurso e comportamento da direita. O que precisamos construir é daqui para a frente. Não é possível, nem desejado, apagar o passado, ele é parte importante da luta pelo futuro. Apagar as transformações sociais que o PT promoveu é negar o legado da esquerda.
2. Implementar a participação direta na aprovação de políticas essenciais à construção de uma país menos desigual, mais plural, democrático e que potencialize nossa imensa capacidade criativa, produtiva.
3. Investir em meios de comunicação mais formativos, que assegurem o contraditório em todos os programas jornalísticos, que, de fato, a cada notícia, possamos ter acesso ao contraditório, ao que pensam governo, pesquisadores e população organizada (movimentos sociais, sindicais, populares) sobre o tema em discussão. Menos doutrinação midiática, mais contraditório, população melhor informada. Que os espaços de uso público com televisão transmitam canais públicos.
Artigos que complementam o caminho:
Emir Sader - sobre a auto-crítica da esquerda
A campanha da direita por dentro do PT


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