sábado, 17 de setembro de 2016

Filme Aquarius - Para falar de ontem e de nós

O filme Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, é um desses momentos em que você passa pelo "buraco da minhoca", aquele espaço que liga de forma direta uma e outra dimensão do tempo e te deixa transitar entre um e outro tempo, um e outro universo. Era lá... por volta de 1970, mas é aqui, 2016. Além do espetáculo fotográfico que a simples presença de Sônia Braga causa, Humberto Carrão faz uma interpretação impecável, incorpora na face, nos gestos, no fulminantemente no olhar, uma espécie de sujeito presente no fascismo social que por si só já valeria o filme. Irandhir Santos impecável como sempre, desenrolando, com Sônia as situações do melhor exemplo de algo que é e não é, no melhor estilo Caetaneano do termo, espetacular.
A idade adulta e a velhice, o lá e aqui, o sossego de quem tem tempo para a luta, a objetividade da luta, a capacidade de associação, são encarnações de Sônia Braga ao longo do filme e que, no debate entre Humberto Carrão e ela, presente em toda a história mas materializado em alguns momentos, como no pátio do prédio, arrancão inevitavelmente o "Fora Temer" ao final do filme. Não tinha como o elenco desse filme ter evitado a fundamental denúncia internacional do Golpe em Cannes, não podia ser de outro jeito, assim como o final do filme e a reação da plateia não poderiam ser outras. É um filme destino à reflexão, ao reviver e ao (re)lutar.
A música vale ser citada: Taiguara, responsável por você não sair do cinema até passar a última letrinha dos créditos.
Ainda em cartaz, se Veja diz que pessoas de bem não devem assitir, corre para lá!
Hoje (Taiguara)
Hoje
Trago em meu corpo as marcas do meu tempo
Meu desespero, a vida num momento
A fossa, a fome, a flor, o fim do mundo
Hoje
Trago no olhar imagens distorcidas
Cores, viagens, mãos desconhecidas
Trazem a lua, a rua às minhas mãos
Mas hoje,
As minhas mãos enfraquecidas e vazias
Procuram nuas pelas luas, pelas ruas
Na solidão das noites frias por você
Hoje
Homens sem medo aportam no futuro
Eu tenho medo acordo e te procuro
Meu quarto escuro é inerte como a morte
Hoje
Homens de aço esperam da ciência
Eu desespero e abraço a tua ausência
Que é o que me resta, vivo em minha sorte
Sorte
Eu não queria a juventude assim perdida
Eu não queria andar morrendo pela vida
Eu não queria amar assim como eu te amei
Ouça aqui:
https://www.letras.mus.br/taiguara/

2 comentários:

Méris Nelita disse...

Estou com muita vontade de assistir. Incrível, acho que terei que ir à Curitiba.

Andréa Rosana Fetzner (Krug) disse...

Triste a falta de incentivo ao cinema nacional. Coisa de coxinha...rsrsrs.... "Sé é filme nacional não deve ser bom"....