O que, afinal, poderia vir a ser a Pátria Educadora?
A afirmação de um contexto ampliado de educação, que coloca a nação como responsável pelo desenvolvimento de ações educativas articuladas entre diferentes Ministérios (Educação, Esportes, Cultura,Saúde, Comunicação e outros) para toda a população assumindo o papel de Pátria Educadora sem reduzir o conceito à educação escolar (isto já foi apresentado no post anterior).
E, também, a afirmação, qualificação e ampliação de Programas que colaboram com a melhoria dos processos educacionais que as instituições públicas de educação oferecem. Assusta o desconhecimento, no documento, de Programas que já estão em andamento e que deveriam ser resgatados, melhorados e ampliados.
O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - Pibid
O documento preliminar Pátria Educadora desconhece que o Pibid
trabalha com LICENCIATURAS, e não apenas Pedagogia, como afirma. Desconhece também que o Programa já articula a escola pública à Universidade, em acompanhamentos semanais dos bolsistas Pibid
em escolas públicas, o documento preliminar ignora que existe um engajamento, no estudo e produção de
inovação educacional, compartilhado entre o supervisor (professor de sala de
aula, da rede pública, bolsista do Pibid na Escola) e o professor do curso de
licenciatura da Universidade, em conjunto, é claro, com os bolsistas estudantes
de licenciatura. É um Programa rico em possibilidades e que tem dado efeito nas
práticas escolares, sacudido a escola com a escola e não de cima para baixo. De
fato, o Programa tem alterado, para melhor, a relação
entre as alunas e alunos das escolas públicas e a própria escola. Precisaria ser ampliado e revisto: ampliado até
universalizar as bolsas aos estudantes de cursos de licenciatura (incluído a
Pedagogia), antes de atender Universidades e faculdades privadas; revisto nos
valores de bolsa (atualmente os estudantes universitários recebem, por meio de Programas como Pibid ou Pibic, uma bolsa de R$
400,00 e, no caso, do Pibid, com a necessidade de ida semanal uma vez por
semana na escola pública, e um turno a mais na Universidade – no
planejamento/estudo – este custo sai da bolsa, diferente de outras como o
Pibic, no mesmo valor, mas com envolvimento na maioria do tempo apenas na própria Universidade onde o estudante já estuda ou em visitas de campo subsidiadas). Acredito que por falta de
recursos, o que começou com um professor universitário orientando até seis
bolsistas estudantes e frequentando semanalmente a escola pública, agora conta
com professores que precisam orientar/acompanhar até 16 estudantes ou mais, em alguns grupos. Isto é, um professor universitário orientando
16 estudantes universitários em trabalhos em congressos, em estudos e
planejamento com a escola.
Laboratórios Interdisciplinares de Formação de Educadores - LIFES
As
vagas de licenciatura estão sobrando nas Universidades públicas, não faz sentido criar mais uma instância de
formação de professores, mesmo que seja para formação permanente. Não dá
para trabalhar na lógica de que se um órgão do governo não faz o que deveria,
cria-se outro, outra estrutura, mais recursos e pessoal, para reforçar a
suposta desqualificação do primeiro e tornar tudo mais caro para, ao final, resolver pouco. A Universidade pública já tem – e as
mais novas precisam continuar no processo de construírem-se, pois a expansão foi rápida – bibliotecas, pesquisas e extensão consolidadas, professores concursados com formação e
produção qualificada permanente, não há porque deixar de aproveitar o que
já se tem para criar outra coisa, outro Centro
de Qualificação Avançada para professores ou diretores, é jogar
dinheiro pelo ralo, o que precisamos é investir no que já temos. Os LIFES fazem isto dentro das Universidades,
estimulam a ação interdisciplinar na formação de professores, criam espaços de
excelência estrutural dentro da Universidade, poderiam ser ampliados para estimular o oferecimento da formação
permanente em serviço (professores já formados, em serviço, que precisam estudar por toda a vida). O LIFE já está construído, e funciona dentro das Universidades públicas.
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica com foco prioritário para estudantes de licenciatura, no estudo de questões ligadas aos desafios da nossa educação
Os estudantes de licenciatura que tiveram bolsa
Pibic (de iniciação científica) também, quando professores, dominam melhor o
instrumento da pesquisa, tão importante na construção de um professor autônomo
e que responda melhor aos desafios cotidianos da docência. O Pibic não deveria ser neglicenciado em suas possibilidades.
Programa Escola de Gestores
A sobreposição à Universidade como espaço de formação, proposta pela criação dos Centros
de Formação de Diretores também deve ser evitada. O MEC já mantem o Programa Escola de Gestores, oferecido
pelas Universidades Públicas, dentro das Universidades públicas e por meio de
Plataforma Moodle (é um curso semi-presencial). O Programa pode e precisa ser
melhorado, com mais investimento poderia ser regionalizado (nos conteúdos que
são apostilados) considerando-se os problemas específicos dos municípios e
estados e estar mais integrado à pesquisa que se faz nas Universidades,
recorrendo a artigos científicos, envolvendo professores bolsistas de produtividade em
pesquisa e envolvendo tutores que se voltassem também para a
pesquisa. A criação
de novas estruturas demanda dinheiro, início precário, falta de articulação entre os órgãos. O Programa Escola de Gestores incentiva/orienta e exige que o diretor,
aquele que estava esquecido entre os papeis a preencher para atender as
demandas de sua secretaria de educação, a estudar novamente, a rediscutir (ou
discutir e construir pela primeira vez), com a comunidade escolar, o Projeto
Político-Pedagógico da Escola. Ao fazer isto, movimenta a escola, o diretor,
contribui com sua formação, estimula a continuar os estudos no mestrado, a
participar da vida da Universidade. O tom dado pelo documento PE (Pátria
Educadora) ao tratar dos diretores é repugnante e descolado do perfil de
diretores que temos Brasil a fora.
Carreira docente federal
Para
melhorar a qualidade dos professores, de forma geral, a carreira nacional seria
o grande avanço, a inovação. Para “melhorar o ensino” precisa olhar para o trabalho das
escolas básicas federais. E olhar para as escolas básicas federais inclui olhar para o que o professor Wanderlei Geraldi chama de professores integrais na construção de escolas integrais: "Infelizmente, as propostas que envolvem os professores sempre
ficam nas questões de salário, formação inicial e formação continuada. Não que
estas não sejam importantes. Minha sugestão vai um pouco além: é preciso uma
legislação que crie nacionalmente padrões mínimos de condições de trabalho, com
regimes de 20 horas, regimes de 40 horas e regimes de dedicação integral. Não
adianta pensar uma educação de tempo integral para os alunos sem professores em
tempo integral! E mais: a carga horária deve ser desenvolvida em apenas uma
unidade escolar! Chega de professor-táxi. E mais, deve ser proibida duas
contratações de 40 horas mesmo que sejam com entes diferentes (por exemplo 40
horas no município e 40 horas na rede estadual! muito menos ainda dois
contratos de 40 horas num mesmo ente público!). O tempo integral com dedicação
exclusiva mostrou-se bom no ensino superior, por que não seria bem em todos os
níveis?
Quanto à formação inicial. Tivemos Corinta e eu uma experiência gratificante: em encontros em várias cidades de Sergipe, com um total aproximado de 1.700 professores, em ação do Sindicato, verificamos que 98% dos professores tinham curso superior, o curso que lhes foi possível! Também entre estes 1.700 professores, somente 6 (SEIS) tinham o pai ou a mãe com formação superior. E destes 6, 4 tinham a mãe professora formada em nível superior muito recentemente. Não recolhemos os dados, mas pedimos que os professores registrassem para si próprios o nível de escolaridade dos avós paternos, dos avós maternos, e dos pais, para se conscientizarem do salto de escolaridade que numa só geração se fez neste país, entre os professores. Isto mostra um professorado querendo aprender, querendo melhorar e investindo em sua formação! Mas como houve um salto, produziu-se também um vazio, um vácuo a ser preenchido na formação integral destes mesmos professores. E isso só será possível se eles não precisarem pular de galho em galho para ir somando salários! Por isso o tempo integral é fundamental como condição primeira para qualquer qualificação de nossas escolas. Que adianta termos uma escola com professores que apenas perambulam por elas, correndo para outro lugar para cumprir sua carga horária?"
Quanto à formação inicial. Tivemos Corinta e eu uma experiência gratificante: em encontros em várias cidades de Sergipe, com um total aproximado de 1.700 professores, em ação do Sindicato, verificamos que 98% dos professores tinham curso superior, o curso que lhes foi possível! Também entre estes 1.700 professores, somente 6 (SEIS) tinham o pai ou a mãe com formação superior. E destes 6, 4 tinham a mãe professora formada em nível superior muito recentemente. Não recolhemos os dados, mas pedimos que os professores registrassem para si próprios o nível de escolaridade dos avós paternos, dos avós maternos, e dos pais, para se conscientizarem do salto de escolaridade que numa só geração se fez neste país, entre os professores. Isto mostra um professorado querendo aprender, querendo melhorar e investindo em sua formação! Mas como houve um salto, produziu-se também um vazio, um vácuo a ser preenchido na formação integral destes mesmos professores. E isso só será possível se eles não precisarem pular de galho em galho para ir somando salários! Por isso o tempo integral é fundamental como condição primeira para qualquer qualificação de nossas escolas. Que adianta termos uma escola com professores que apenas perambulam por elas, correndo para outro lugar para cumprir sua carga horária?"
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