terça-feira, 10 de junho de 2014

A diferença entre um termômetro e um teste de alto impacto em educação

Recentemente, e felizmente, um grupo de referência no campo da educação comprometido com a justiça social e democracia escolar escreveu um manifesto internacional posicionando-se contra o Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes - PISA por entender que o modelo serve a um conjunto de medidas que mais prejudicam do que melhoram a educação que se oferece nas escolas.
Veja, traduzido, os principais argumentos da crítica ao PISA no Blog do professor Luiz Carlos Freitas: http://avaliacaoeducacional.com/2014/05/13/pisa-pesquisadores-ao-redor-do-mundo-reagem/
Como reação, professores ligados aos institutos e universidades que vendem a elaboração dos testes e/ou trabalham dentro da perspectiva de que é possível medir o conhecimento que uma pessoa tem por meio de um teste padronizado, escreveram uma resposta criticando o manifesto e defendendo o PISA.
A crítica ao manifesto pode ser acessada aqui (veja a participação de alguns professores brasileiros PUC/Rio, FGV, etc.): http://www.eale.nl/about%20eale/OECD'S%20PISA%20under%20attack!.htm
O argumento de defesa ao PISA o apresenta como um termômetro e segue a lógica de que não se pode criticar o termômetro (PISA) usado para medir a febre (situação da educação que oferecemos).
Não sou médica, mas mesmo uma professora pode entender que o termômetro é um instrumento elaborado para identificar, em qualquer parte do mundo, a temperatura de uma pessoa e então indicar se há necessidade ou não de se preocupar em relação a doenças que causam febre.
O problema (um deles) é justamente o PISA se apresentar como um instrumento que para medir conhecimento. E, um dos problemas, é que o conhecimento que uma pessoa desenvolve/constrói/ elabora não aparece em uma prova, em um teste de larga escala, aplicado a muita gente ao mesmo tempo. Queremos medir o que não é possível medir por meio do termômetro. Somos humanos, para demonstrar o que sabemos levamos tempos diferentes, estabelecemos relações diferentes entre os conceitos que utilizamos, formados de um extrato muito especial: a cultura.
O teste de larga escala não é um instrumento de medição de temperatura, ou seja, não pode medir o que se propõe a medir, vimos isto (muitos de nós professores) quando observamos a diferença entre o resultado de um teste (qualquer um, não apenas o teste de larga escala) e o que o estudante que acompanhamos sabe. A premissa errada inviabiliza toda a validade do sistema. No caso dos testes de larga escala, muito dinheiro para obter um resultado "mais ou menos" próximo do que talvez pudesse vir a ser...
Mesmo o termômetro, ao que me parece, não resolve grande coisa se você estiver investigando um cálculo renal ou biliar, um osso quebrado, infarto do miocárdio ou coisas do gênero. Ou seja, dependendo a doença, o uso do termômetro não fará a menor diferença. Não precisamos de financiamento para aplicar um teste e identificar o quanto ainda precisamos melhorar em salários, condições de formação e trabalho. E o quanto a vida em geral da população que frequenta as escolas públicas também precisa melhorar para que o estudante possa ter uma vida escolar mais tranquila.

Nenhum comentário: