terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Educação & Mercado

Ao final deste Post uma reportagem sobre as consequências da privatização na área educacional na Suécia, explicando os efeitos nefastos da política e porque o país volta atrás, após vinte anos da implantação da política.
A questão é que a reportagem a seguir vai falar da educação, e do quanto seria importante não privatizar a educação e a saúde, o que é de fato relevante e especialmente relevante quando "olhamos as políticas de cima" e percebemos o caminho para o qual estamos indo no Brasil, em municípios que intensificam as avaliações externas, implementam as políticas de bônus e incentivando a competição entre escolas, professores, alunos. Todavia, o modo privatizado e desregulamentado em que o mundo mercado se apresenta hoje corrói a paciência e altera a existência.
Quando você pega um avião hoje em dia, e já faz isto há cerca de 10 anos, você percebe que alguma coisa desagradável está acontecendo: é como se você deixasse de ser "cliente" e passasse a ser "súdito" da empresa privada que lhe vendeu um serviço. No dia 19 de dezembro fiz uma viagem pela Azul, retornando dia 20. O avião da Azul é meu preferido: Embraer, 2 poltronas de cada lado do corredor e (ao menos me parece) um pouco mais de espaço para as pernas, antes da poltrona da frente. O atendimento também era melhor, mais simpático e os lanches gratuitos (coisa que a Gol aboliu no Brasil...), aliás, um sistema bastante econômico: perguntam primeiro o que vc vai beber e trazem as bebidas em uma bandeja, evitando o carrinho irritante ao longo do corredor. Para comer, petiscos (mesmo sabendo que qualquer voo simples você acaba ficando mais de seis horas entre a saída de casa e a chegada a uma cidade de destino): nada saudáveis, mas rápidos de servir, quebrando um galho na fome burguesa. Prejudicando, é claro, diabéticos, hipertensos, enfim, isto não é problema que seja relevante, ante a ditadura do mercado.
Na viagem de ida, os problemas de sempre: poucos guichês da Companhia atendendo para a quantidade de passageiros ("súditos" que não tem direito a um atendimento com tempo mínimo de espera previamente acordado), a única coisa que funcionava no Santos Dumont, no dia 19 de dezembro, era a revista ao encargo da Polícia Federal, que dava conta da quantidade de gente sem muita fila. Na hora do embarque, a funcionária da Azul que recolhia os bilhetes, pediu a formação de duas filas: uma para passageiros com assento entre 01 e 15 e outra para passageiros com assentos entre 16 e 30. Acredito que algum súdito tenha se enganado de fila, de propósito ou não. O fato é que  os gritos que a funcionária passou a dar com quem estava na fila eram impressionantes, a sensação era que eu veria alguém apanhar na cara...
 Se você observar os efeitos da desregulamentação dos Bancos (mais chamativa) e do mercado em geral, como, por exemplo, a telefonia (você, "súdito", é obrigado, para ter telefone, a fazer uma aposta da qual vc sempre sairá perdendo - o pagamento por faixa - vc aposta no quanto vai gastar e precisa gastar menos que sua aposta porque, se gastar mais, será penalizado com um custo maior - o mesmo minuto de telefonia custando mais... - uma doidera!!! Para completar o absurdo, a Companhia não é obrigada a te dizer quando vc chegou no limite do teu gasto, ou seja, para vc não ter prejuízo maior, o melhor é gastar menos do que vc paga mensalmente para consumir) é possível perceber o quanto uma boa educação pode contribuir para que possamos aprender sobre quantidades, relações, direitos, e, talvez, desempreender a mercantilização do mundo.
A exploração sobre o trabalho (do piloto, da comissária de bordo, da atendente que gritava com os passageiros que estavam na fila errada, da funcionária do telemarketing que vende os pacotes da telefonia, da caixa do supermercado que é obrigada a trabalhar com uma balança adulterada), na ditadura de um mercado cada vez mais difícil de ser submetido a um controle, gera hiper ricos de um lado (2% da população detêm para si mais da metade da riqueza mundial, enquanto, segundo a ONU, os 50% mais pobres dividem 1%) e súditos de outro precisa ser contida. E os súditos nem sempre se dão conta de sua quantidade, e do poder que esta quantidade representa. Daí porque a desqualificação da política é tão importante para manter a ordem das coisas, para que elas continuem a servir a quem servem.
Segue a reportagem:
Porque a Suécia  está revendo a privatização do ensino
http://outraspalavras.net/outrasmidias/destaque-outras-midias/por-que-a-suecia-esta-revendo-a-privatizacao-do-ensino/


 

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