segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Problematizando a "crise de representação"

Na quinta, 26-09-2013, durante a aula inaugural do segundo semestre da Pedagogia, a convite das professoras Lea Tiriba e Sandra Albernaz, recebemos dois professores da Universidade Nômade (que não é propriamente uma Universidade, mas uma rede de intelectuais e ativistas sociais, entre outros, que se propõe a pensar política e teoria fundamentados nas contribuições de autores como Negri, Deleuze e Guatarri). Na discussão, as manifestações de junho/julho que levam a "crise de representação" que pode ser lida atualmente também como "crise da política" ou "crise do sujeito".
Desde o livrinho (básico e pequeno) de Hall, a pluralidade identitária têm sido identificada como um desafio da pós-modernidade (para o autor). Isto é mais ou menos como dizer que hoje nossas identidades são inúmeras, e orientam-se, no sentido do "alinhamento político" com diferentes grupos que, muitas vezes, podem e tem interesses de classe antagônicos. O problema do discurso é que sua defesa de pluralidade vem a ser tão monolítico quanto aquele que se critica... O "estado", a "mídia", a "escola", a "universidade" e qualquer outra instituição passa a ser vista como uma coisa só, uma instituição que, acima da vida da gente tudo determina e tudo pode e, por assim ser, precisa ser derrubada.
A parte humana do sistema, tudo o que fazemos neste estado (e dele), na mídia, na escola e na universidade têm limites que são da estrutura burocrática que, necessariamente, precisa lhe dar "peso conservador", ao contrário do ser humano comum, que pode, ao som de Raul Seixas, "ser esta metamorfose ambulante", saudável, porque aberta a novos entendimentos e experiências. Por sua vez, as instituições possuem uma máquina que, assim como as impessoaliza (em nome de um livre acesso e tentando minimizar o aparelhamento político partidário) organiza rotinas, processos e formas de participação que se mostram ineficientes frente as demandas do chamado "setor produtivo".
Em que pese as ações do Congresso Suicida Nacional, quase inacreditáveis para o cidadão comum (como pode o presidente ser quem é, como pode a comissão de direitos humanos ter a coordenação que tem...), entre outros atos (suicidas), é também este Congresso que discute a necessária proibição da divulgação do IDEB por escola, a reforma política e tantos outros temas que nos interessam e representam. Por que existe uma composição como esta no Congresso? Em que pese a falta de democratização da mídia e o conservadorismo de grande parte da sociedade, ainda assim, eleição sai caro e quem tem mais dinheiro para patrocinar seus candidatos não é o cidadão comum. O que resulta em um Congresso que representa interesses antagônicos, em um jogo de força que, inúmeras vezes, não nos satisfaz.
Quando ouço o discurso do fim do Congresso, do Ministério Público e de outras instituições (escola, Universidade, etc), instituições estas que entendo voltadas para a defesa de um interesse social que é cada vez mais fragmentado (e que, portanto, é mais exigida e, por não conseguir dar conta desta representação cada vez mais fragmentada, mais fragilizada frente aos usuários - cidadãos comuns), lembro do memorando interno do Citibank citado no filme "Capitalismo, uma história de amor" (Michael Moore) - aquele que alertava para o perigo da correspondência "uma pessoa = um voto" e que o valor da "democracia" deveria ser posto em cheque, para que esta relação perigosa (uma pessoa = um voto) pudesse ser substituída por uma gerência técnica competente das demandas (interesses do mundo corporativo, entre estes, do Citibank).
Onde vai uma mulher que precisa de vaga para seu filho e não encontra na escola? É ainda o Ministério Público. Onde se recorre de um direito não respeitado? Onde se defende a distribuição mais justa dos tributos? Onde posso aprender sobre o que minha família não conhece? Onde posso buscar formação sobre uma profissão que quero seguir? De forma injusta, nem todos tem o mesmo acesso (embora juridicamente todos tenham o direito) a estas instituições. O que precisamos fazer? Lutar pela democratização do acesso ou pelo término do Estado? As representações sofrem a insatisfação daqueles que seriam seus representados e não há dúvida disto (mesmo no auditório onde a aula inaugural aconteceu, três estudantes se manifestaram, teriam se manifestado por todos?), mas enxergar Estado, Congresso, Escola, Universidade como uma coisa só, parece-me, estar a levar adiante o projeto de desacreditar-se na democracia como possibilidade, em nome da defesa dos interesses das corporações.  

Nenhum comentário: