sábado, 18 de agosto de 2012

Entrevista de Regina de Assis (Secretária de Educação da cidade do Rio de Janeiro, de 1993 a 1996) à revistapontocom

Por pesquisar desde 2004 com a Rede Municipal da cidade do Rio de Janeiro, penso que a entrevista de Regina de Assis, personalidade significativa na produção do material Multieducação, também discutido no Curso de Currículo (Pedagogia/UNIRIO), é uma importante peça histórica do contexto, recomendo a leitura, na íntegra, da entrevista concedida à revistapontocom, que pode ser acessada no link ao final da transcrição parcial. Destaco os trechos a seguir, por representarem um contraponto não encontrado no Jornal Nacional; por reafirmarem analises já realizadas sobre os testes de larga escala em educação; e, ainda, por tratarem de temas gravíssimos a serem comunicados às famílias que hoje têm seus filhos na Rede Municipal do Rio de Janeiro. Os destaques em vermelho são meus, as perguntas e respostas estão copiadas na íntegra do site da Revista.  

revistapontocom – Mas o que leva a senhora a fazer tais afirmações?
Regina de Assis –
O desrespeito total da atual gestão com os professores no sentido de não reconhecer a capacidade instalada na rede. Lá atrás, em 1993, foi desse reconhecimento que foi possível fazer um trabalho, um diálogo entre a rede e a universidade e que gerou o Núcleo Curricular Base, a MultiEducação, documento que foi referência inclusive para a formulação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil e para o Ensino Fundamental, das quais fui a relatora, durante os anos 1996/2000, em que participei do Conselho Nacional de Educação, e dos Parâmetros Curriculares de Educação, via MEC. Atualmente, não temos nem a rede representada nem as universidades. Há, sim, uma turma de burocratas que trabalham em favor de seus próprios interesses e que desconhecem e repudiam a historia de êxito da educação municipal do Rio, prestando assim um grave desserviço à cidade e à rede como um todo. Têm acontecido coisas muito graves, que já são, inclusive, do conhecimento do Ministério Público. Na internet, há várias denúncias.
revistapontocom – Por exemplo?
Regina de Assis –
Desperdício de dinheiro público. Há pouco tempo foram publicados milhares de livros pela secretaria municipal de Educação/Multirio que tiveram que ser recolhidos em seguida. Livros caros que não receberam uma revisão cuidadosa e necessária e que foram, portanto, retirados de circulação. Outro grave problema relatado por professores: com o objetivo de fazer com que o Rio fique bem na foto da Prova Brasil, a secretaria tem excluído do exame alunos com baixo desempenho. A atual secretária tem ordenado a retirada de alunos de determinadas turmas, para que não sejam avaliados pelas provas, segundo informações dos professores. Isso é desonesto. Em vez de articular a rede com uma proposta pedagógica, compram-se produtos, elaboram-se apostilas com o objetivo de treinar alunos para as provas, isso tudo sem ouvir os professores. Os profissionais são obrigados a cumprir tarefas e a alcançar metas que atendam às expectativas das avaliações externas em curso. A avaliação interna e externa é de extrema importância. Só que a avaliação é intrínseca ao processo de educação. Antes de falar em avaliação, você tem que definir a proposta pedagógica. Avaliação não é um apêndice externo. Devemos ser avaliados, mas não temos que transformar o trabalho de política educacional, que não pode ser político/partidária, na busca de resultados, no treinamento de professores e alunos para responder questões de prova. É uma vergonha o que está acontecendo no Brasil inteiro, não só no Rio de Janeiro, fruto também de uma orientação econômica e política que muitas vezes se preocupa mais com o resultado do que com o processo. Se há áreas que precisam prestar atenção no processo para atingir um bom resultado são as de educação e a saúde. Você não consegue uma cura, se não conhece o processo pelo qual o doente está passando. Não existe doença, existem doentes. Não adianta justapor a avaliação como carro-chefe de uma gestão porque isso não traduz o que foi feito. O resultado pode ser totalmente fictício. Por conta disso, temos professores totalmente cansados, desanimados e desrespeitados, me valendo do título do romance do escritor Dostoiévski, humilhados e ofendidos [a obra narra personagens perseguidos por conta de sua condição social e econômica, no entanto resistentes à hipocrisia e a fala de humanidade de seus ofensores]. Humilhados na sua capacidade profissional e ofendidos na forma como são tratados, não consultados. A atual gestão faz tábula rasa como se toda a história da política municipal de educação do Rio se resumisse a aprovação automática, que não era para ter existido, foi uma equivocada política de implantação dos ciclos.
Na íntegra em http://www.revistapontocom.org.br/destaques/educacao-publica-e-politica-de-estado-e-nao-de-governo-diz-regina-de-assis

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