terça-feira, 15 de novembro de 2011

V Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares - João Pessoa - reflexões sobre o currículo e os testes de larga escala

O Colóquio reuniu muita gente, em especial o povo do Brasil que pesquisa questões curriculares. Participei discutindo o PIBID e tive a oportunidade de assistir ao Prof. Michael Apple que organizou sua fala considerando três principios da educação:
1. Educação é política [concordamos...vejam o título deste Blog...rs...]
2. Eduação é relacional
3. Educação exige reposicionamento
A fala foi descontraída, mas profundamente comprometida com os estudos que o prof. orienta hoje (v. Currículo, Poder e Lutas Educacionais - Apple e Buras, Artmed), situada entre o "pessimismo do intelecto e o otimismo da vontade" (Gramsci). A análise apresentada trouxe os grupos que, para o professor, dominam as políticas educacionais hoje: neoliberais, neoconservadores, religiosos e a classe média (por meio do gerencialismo). Esta coalisão ele chama de modernização conservadora.
Se acrescentarmos as discussões de Barriga e de Freitas, no III Encontro Nacional das Escolas em Ciclos, podemos ter um esquema para leitura do mundo-mercado mais ou menos assim:
a. As Corporações (estas que estão sendo denunciadas pelos movimentos Ocupem Wall Street, 99%, Ocupe-se, entre tantas, promovidas pelos indignados com o mundo corporativo e com a desregulamentação dos Bancos, política neoliberal que nos levou a situação-limite atual) submetem os governos (v. o filme a História das Coisas, neste Blog).
2. Os governos, submetidos aos desejos das corporações, pagam um milhão de dólares para aplicação do PISA em cada país. O PISA desqualifica as culturas e os conhecimentos locais (uma escola indígena foi a pior em IDEB no Brasil, por exemplo) e impõe uma única ideia de conhecimento que acredita medir por suas provas.
3. Para melhorar o desempenho no PISA, os governos desencadeiam as avaliações nacionais por meio de testes de larga escala, que (1) associam-se às políticas de responsabilização e privatização da educação; (2) promovem a desqualificação da escola pública (algumas escolas privadas sempre são melhores que as públicas, e entre as públicas, aquelas que atendem a população mais empobrecida - pela aplicação das políticas mundiais e locais implementadas - são as que sofrem maior desqualificação).
No que se refere à primeira consequência dos testes de larga escala, ou seja, a alavancagem das políticas de responsabilização, os governos:
(a) dizem que todas as escolas deveriam e podem ser iguais e que não o são porque os professores não fazem seu trabalho;
(b) implementam políticas de bonificações e, assim, podem desmantelar os planos de carreira, estabelecer a lógica de mercado (produtivismo, competição, o que faz com que as escolas queiram os melhores alunos, inclusive) em um serviço público básico que deveria ser para todos, adequado às especificidades de cada comunidade, e com um princípio educativo mais amplo que treinar para provas.
No Brasil, ainda neste V Colóquio, duas secretarias de estado da educação apresentaram suas políticas educacionais e, em ambas, o estabelecimento de sistemas de avaliação do desempenho escolar são tomadas como foco. A ideia seria que os exames de larga escala estaduais contribuiriam, também, para a melhoria da escola pública, servindo como informação para as políticas a serem implementadas localmente.
4. Considerando-se as pesquisas que trabalham com o cotidiano escolar, entre elas a pesquisa da Profa. Maria Teresa Esteban (já comentada neste Blog), observamos que crianças com saberes muito diferentes, em etapas da construção da leitura e da escrita muito diferentes, tiram a mesma nota na Provinha Brasil. Estas pesquisas nos possibilitam inferir que as bases sobre as quais se assentam as políticas a serem propostas (que tomam o IDEB como base) são de areia...
Daí nossa luta seja, talvez, reunirmos aos acampamentos.

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