terça-feira, 13 de setembro de 2011

A escola pública é mordida, mais uma vez, pelo cão capitalista

Sob luzes e festa, a escola pública é mais uma vez atacada pelo mercado voraz e salivante que busca garantir sua alimentação na carne e no sangue daqueles que, comprometidos com a construção de um outro país, constroem a escola pública. Em troca de dinheiro ganho na elaboração, aplicação e divulgação de testes que supostamente avaliariam o desempenho dos estudantes, a desqualificação da escola pública é promovida. Ontem, 12-09, uma das emissoras de tv anunciava, espantada, o número pequeno de escolas públicas que conseguem se classificar entre as 100 melhores do ENEM. Num país em que a informação é quase igual a imbecilização (não apresenta o contraditório, não discute as fontes, não polemiza com a comunidade, a pesquisa e o governo) forma-se o consenso de que a escola pública não presta e de que os pais devem ser responsabilizados a buscar a melhor escola.
Os testes medem somente aquilo que é possível ser medido em testes. Logo, sua ação é, por princípio, restrita. Os problemas que os testes de larga escala (testes sobre o desempenho dos estudantes com uma prova padronizada) causam são muito maiores do que qualquer problema que ele se proponha a resolver (veja mais em https://sites.google.com/site/movimentocontratestes/ ). Os testes de larga escala dão à escola uma visão de empresa, de lucro, de ganhos e resultados: é como se a escola pudesse produzir pessoas como a fábrica que produz parafusos. A escola não é uma empresa (ver LAVAL, 2003, Ed. Planta) e ainda bem que não é, porque as pessoas são maiores e melhores que as coisas. Trabalhamos (alguns ainda, onde o dente do cão não tirou da Secretaria de Educação os professores e colocou administradores de empresa) na formação de sujeitos que precisam aprender na escola e com a escola a refletir sobre sua realidade e as questões que se fazem urgentes para uma vida decente (SANTOS, 2000, E. Cortez - contra o desperdício da experiência) e que, embora sofram com a exclusão social, são capazes de aprender, produzir, criar outros mundos possíveis, onde o seu espaço seja construído, com base numa transformação da sociedade. Os testes, além de estarem comprometidos com uma política de desqualificação da escola, em especial a escola pública, promovem a procura da resposta única, a padronização das experiências escolares com o conhecimento, a competição no processo de  formação intelectual. Como resultado, o sucesso nos testes não foi (nos países como Inglaterra e Estados Unidos, por exemplo) não é (aqui) e não será jamais (prevejo o futuro) a melhoria do ensino. Porque o processo de ensino-aprendizagem exige, entre outras coisas, diálogo entre os saberes dos estudantes (quaisquer que sejam suas experiências extra-scolares) com os saberes docentes, mediatizados pelo mundo, pelo que se apresente como relevante num momento dado da história, da ciência,da vida. É mais, muito mais, do que tentam convencer aos pais.
O marco regulatório da mídia é urgente e necessário, para que se tenham reportagens que respeitem a ciência (sim!!! existe ciência sobre os processos de ensino aprendizagem!!!), fomentem o contraditório (para evitarmos a idiocracia), mostrem como pensam diferentes correntes sobre o tema. Aliás, a informação sobre quanto gastam os governos com testes de alto impacto, na promoção do PISA, por exemplo e para onde vai este dinheiro, seria muito interessante (sobre o tema, ver o estudo de PERONI, 2011, sobre o quanto a Fundação Ayrton Senna custa ao país http://www.ufrgs.br/faced/peroni/docs/INSTITUTO%20AYRTON%20SENNA%20RELATORIO.pdf ) 
Um movimento político de professores da escola pública também seria importante na busca de esclarecer aos pais sobre o processo de privatização da educação em curso.

2 comentários:

Claudinha Flor de Lótus disse...

Muito bom. Precisamos nos manifestar, Andréa. Aproveitarei o próximo Dia da Família na Escola, no sábado, para compartilhar com os responsáveis pelos alunos.
Abração.

Andréa Rosana Fetzner (Krug) disse...

Obrigada pelo comentário Claudia!
Acho que o trabalho junto com a comunidade sobre estas questões é uma ação muito importante! Boa sorte!